domingo, 23 de julho de 2017

Encontro da FEED: ANÁLISE DE CONJUNTURA - TEXTO BASE





ENCONTRO DA FRENTE EVANGÉLICA PELO ESTADO DE DIREITO
NATAL – RN, 22 de julho de 2017
Hotel Monza
Orivaldo Pimentel Lopes Júnior
A situação pela qual estamos passando no Brasil é desesperadora. Não preciso narrar o que está acontecendo: é tudo evidente, tudo acontece diante de nossos olhos. Os donos do poder cansaram de nos deixar brincar de democracia, e tomaram o poder de volta para tornar a explorar e destruir o povo, como se os anos de democracia e de políticas sociais tivessem atrasado sua fome de carne humana e sua sede de sangue. Era preciso destruir rapidamente todo Estado de Bem-Estar Social. Eles tem pressa. A fome do capital é insaciável.
Mas convém deslocarmos nossa atenção por um instante para outra época: a do império romano. Com a destruição de povos inteiros, e uma dominação tirânica sem precedentes, o Império dominou toda região do Mar Mediterrâneo e além. Praticamente todo o mundo conhecido pela civilização ocidental caiu nas garras dessa máquina colossal de dominação. Os sofrimentos causados a milhões de pessoas eram incomensuráveis. Para termos ideia do que representa, imaginemos como seria o mundo se o Nazi-fascismo houvesse vencido a Segunda-Guerra Mundial. O Império Romano foi o Nazismo vitorioso. O sofrimento dos povos de então faria o nosso sofrimento no Brasil pós-golpe parecer um piquenique. A esse tempo sombrio, o apóstolo Paulo chamou de Plenitude dos Tempos, pois foi nesse período que Deus achou por bem se manifestar ao mundo na pessoa de Jesus.
Ao clamor dos que eram oprimidos pelo Império Romano, surge Jesus como a resposta de Deus. Portanto, sua chegada deveria representar a derrota do opressor. Isso alegrou João Batista sobremaneira, mas, lá na prisão, sabendo que sua vida seria arrancada, ele teve dúvidas, e perguntou: “Tu és mesmo aquele que esperávamos, ou devemos aguardar outro”? Ele estava querendo dizer: “Se és a solução, por que permites que o mal continue a crescer”?
E ele tinha razão: quantas vezes Jesus se referiu ao Império Romano? Pelo que eu saiba, uma única vez quando disse: “Dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Por que ele permaneceu numa periferia da periferia, em vez de enfrentar o imperador em Roma? Por que ele não convocou o povo a uma guerra civil, marchando corajosamente à sua frente? Por que ele não desmascarou a injustiça, e destruiu os opressores?
Nossa conclusão imediata é que, das duas uma, ou Jesus não era aquele que os oprimidos esperavam, ou ele nada tinha a dizer sobre este Estado soberano, totalitário, tirano e explorador. Tudo que ele veio fazer, portanto, foi nos dar uma libertação espiritual, íntima, e para além da vida.
No entanto, não foi essa a resposta que Jesus deu ao questionamento de João Batista.
“Naquele momento Jesus curou muitos que tinham males, doenças graves e espíritos malignos, e concedeu visão a muitos que eram cegos. Então ele respondeu aos mensageiros: "Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos veem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa". Lucas 7:21-23
Antes, nesse mesmo evangelho, ele havia dito:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor". Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir". Lucas 4:18-21
Se recusamos a espiritualização de Jesus, e estamos convencidos de que ele veio na Plenitude dos Tempos para livrar, curar, encher os pobres de esperança, e transformar este mundo que o Pai dele criou... se acreditamos que ele veio dar acabamento à obra da criação do ser humano, pela realização em sua vida de um modelo de ser... então, tem que haver uma resposta para a pergunta que hoje fazemos desesperados, como a que fez João Batista.
Ao olharmos, dois mil anos depois para o que aconteceu, percebemos que Jesus não estava despreocupado com o Império, pelo contrário, ele o atacou e acabou por derrota-lo completamente. Da mesma forma, ao longo da história, todos os dominadores e exploradores, todos os governantes ilegítimos como o Sr. Michel Temer, foram instigados, incomodados, perturbados e derrubados pelo mesmo poder. Caso contrário, não estaríamos aqui hoje contando essa história.
Temos que compreender como ele fez isso para sabermos como agir hoje. Penso que podemos identificar duas frentes de ataque de Jesus contra os opressores. Uma positiva, constituindo através de seu exemplo e ensino uma comunidade de pessoas em condições de viver uma vida de acolhimento e sem qualquer tipo de opressão e violência. Outra frente negativa, através do ataque ao ponto nevrálgico do sistema.
De modo positivo, Jesus viveu acolhendo os excluídos, fossem eles de natureza sexual, social, econômica, geográfica, etária, litúrgica, simbólica, racial, nacional, física e cultural. É por causa das segregações que o poder opressor consegue se manter. Enquanto brigamos entre nós por causa de nossas supostas diferenças e interesses diversos e antagônicos, aqueles que nos dominam e exploram podem continuar a fazê-lo sem preocupação.
A frente de ataque negativa de Jesus exige uma compreensão daquela realidade, a qual também é útil para entendermos a nossa: O Império Romano dominava o mundo através de uma poderosíssima máquina militar, porém essa máquina servia apenas de suporte externo ao processo de dominação. Na verdade, Roma dominava sempre por meio de colaboradores locais. Sua macro-política global se sustentava em milhares de micro-políticas locais, e que se dividiam em três tipos de colaboradores: os políticos profissionais, os econômicos e os ideológicos.
No caso da Palestina, os colaboradores político-profissionais eram representados pelos Herodianos, e os Saduceus. Esses últimos tinham o controle do sacerdócio do templo, e de onde saiam os sumo-sacerdotes, colaboradores políticos por excelência do Império.
O segundo tipo de colaboradores eram os cobradores de imposto, ou Publicanos. Essa era a fruta principal colhida pelo Império. Os Publicanos tinham por obrigação de entregar a Roma um “X” de receita anual, obtida pelo imposto. Eles nada recebiam para fazer esse trabalho, de modo que podiam cobrar “X+n“ sendo que esse “n" podia ser X vezes 2, ou vezes 3. O povo odiava os publicanos, pois era a face mais visível do colaboracionismo. Além disso ninguém gosta de ver o preço de sua gasolina aumentando por causa de impostos injustos.
O terceiro tipo de colaboracionista, porém, era o mais importante de todos: o ideológico, simbólico ou cultural: os Escribas e Fariseus. Esses tinham por missão aplacar a revolta, justificar a exploração, legitimar os poderosos, confirmar a imutabilidade da estrutura social, e para fazer isso (notem bem que isso é a base de tudo), eles recorriam ao símbolo mais importante: Deus. Através do discurso religioso, da Lei, do templo, da aliança e do culto, eles funcionavam como o alicerce de toda dominação.
O que Jesus fez? Atacou os colaboradores políticos (Herodianos e Saduceus)? Não. Apenas os atormentou, e por eles foi entregue ao Império. Ele questionou o colaboracionismo econômico dos Publicanos? De modo algum! Um de seus discípulos era Publicano (Mateus). Foi almoçar na casa de Zaqueu, um poderoso publicano.
Então, o que Jesus fez? Ele atacou os Escribas e Fariseus de frente, e diretamente. Não economizou palavras para os criticar, não teve com eles qualquer aproximação ou piedade, preocupou-se em destruir pedra por pedra cada um de seus argumentos.
O que está acontecendo hoje no Brasil não é diferente: a força opressora se levanta com suas garras de destruição e ódio. A face mais extrema dessa máquina de destruição é o governo municipal de São Paulo. Só para citar um exemplo, o Dória desmantela todo o programa municipal de ajuda e recuperação dos dependentes de droga na cracolândia. Depois impede que as organizações sociais e religiosas atendam os necessitados. Agora, proíbe que sopa seja dada aos famintos, e acorda os que moram nas ruas com jatos de água fria nas noites de 8 graus centígrados.
Em suas casas, quentinhos e acomodados, os paulistanos em grande parte evangélicos ou católicos, veem as notícias na TV, e dizem uns para os outros: “É isso mesmo! Tem que acabar com esses desgraçados!”
São esses mesmos que bateram panelas contra Dilma. São esses mesmos que colocaram o plástico de Fora Dilma ao lado do outro plástico que dizia “foi Deus quem me deu”. São esses mesmos que soltaram fogos quando os deputados votaram sim pelo golpe contra a presidente.
Sabe porque essas pessoas fazem isso? Porque foram discipuladas 1) pela mídia; e 2) por seus líderes religiosos.
Enquanto essa maioria sentada na frente da TV continuar dando seu apoio silencioso (e as vezes audível) a esse Estado de Exceção, a sanha assassina vai continuar rolando solta, e nossos protestos vão se tornar cada vez mais folclóricos, engraçados e inócuos.
Os cientistas da comunicação podem e devem enfrentar o desafio da mídia. Eles tem a competência para isso, pois esse é o diferencial deles. Os políticos de esquerda podem e vão continuar fustigando o Congresso Nacional, mesmo que sejam minoria. Eles tem competência para isso, e esse é o seu diferencial. Os juristas contra o golpe vão fustigar a corrupção política do sistema judicial brasileiro, pois eles estão lá dentro, são competentes, e o conhecimento do direito é o diferencial deles.
Qual é o nosso diferencial? Nossa frente de ataque tem que ser diretamente voltada para os Escribas e Fariseus contemporâneos. Ele tem que ser desmascarados como colaboracionistas mor da estrutura de exploração montada no país. Com eles não há qualquer possibilidade de comunhão. São o lado oposto da luz. São filhos do pai da mentira e sua meta é única e tão somente matar e destruir. Eles conquistaram o poder. Fazem parte do Sinédrio (o Senado e as Câmaras de deputados federais, estaduais e das Câmaras de vereadores). A presença deles ali é fundamental para dar a esses poderes corrompidos um ar de falsa legitimidade.
Se a macro-política se apoia na micro-política das igrejas, e se nós fazemos dessa micro-política a nossa política, atacando a base de sustentação religiosa, e especificamente evangélica do poder, ele vai estremecer de cima a baixo. Esse é o nosso diferencial. E o mais importante, nosso diferencial é Jesus. Foi ele quem nos mostrou com sua vida e ministério, com seus exemplos e ensinamentos que isso é assim. Não temos outra competência maior do que essa, e essa é a mais importante de todas! Mãos a obra, meus codiscípulos de Jesus.

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