ENCONTRO DA FRENTE EVANGÉLICA PELO ESTADO
DE DIREITO
NATAL – RN, 22 de julho de 2017
Hotel
Monza
Orivaldo
Pimentel Lopes Júnior
A
situação pela qual estamos passando no Brasil é desesperadora. Não preciso
narrar o que está acontecendo: é tudo evidente, tudo acontece diante de nossos
olhos. Os donos do poder cansaram de nos deixar brincar de democracia, e
tomaram o poder de volta para tornar a explorar e destruir o povo, como se os
anos de democracia e de políticas sociais tivessem atrasado sua fome de carne
humana e sua sede de sangue. Era preciso destruir rapidamente todo Estado de
Bem-Estar Social. Eles tem pressa. A fome do capital é insaciável.
Mas
convém deslocarmos nossa atenção por um instante para outra época: a do império
romano. Com a destruição de povos inteiros, e uma dominação tirânica sem
precedentes, o Império dominou toda região do Mar Mediterrâneo e além.
Praticamente todo o mundo conhecido pela civilização ocidental caiu nas garras
dessa máquina colossal de dominação. Os sofrimentos causados a milhões de
pessoas eram incomensuráveis. Para termos ideia do que representa, imaginemos
como seria o mundo se o Nazi-fascismo houvesse vencido a Segunda-Guerra
Mundial. O Império Romano foi o Nazismo vitorioso. O sofrimento dos povos de
então faria o nosso sofrimento no Brasil pós-golpe parecer um piquenique. A
esse tempo sombrio, o apóstolo Paulo chamou de Plenitude dos Tempos, pois foi
nesse período que Deus achou por bem se manifestar ao mundo na pessoa de Jesus.
Ao
clamor dos que eram oprimidos pelo Império Romano, surge Jesus como a resposta
de Deus. Portanto, sua chegada deveria representar a derrota do opressor. Isso
alegrou João Batista sobremaneira, mas, lá na prisão, sabendo que sua vida
seria arrancada, ele teve dúvidas, e perguntou: “Tu és mesmo aquele que esperávamos,
ou devemos aguardar outro”? Ele estava querendo dizer: “Se és a solução, por
que permites que o mal continue a crescer”?
E
ele tinha razão: quantas vezes Jesus se referiu ao Império Romano? Pelo que eu
saiba, uma única vez quando disse: “Dê a César o que é de César, e a Deus o que
é de Deus”. Por que ele permaneceu numa periferia da periferia, em vez de
enfrentar o imperador em Roma? Por que ele não convocou o povo a uma guerra
civil, marchando corajosamente à sua frente? Por que ele não desmascarou a
injustiça, e destruiu os opressores?
Nossa
conclusão imediata é que, das duas uma, ou Jesus não era aquele que os
oprimidos esperavam, ou ele nada tinha a dizer sobre este Estado soberano,
totalitário, tirano e explorador. Tudo que ele veio fazer, portanto, foi nos
dar uma libertação espiritual, íntima, e para além da vida.
No
entanto, não foi essa a resposta que Jesus deu ao questionamento de João
Batista.
“Naquele momento
Jesus curou muitos que tinham males, doenças graves e espíritos malignos, e
concedeu visão a muitos que eram cegos. Então ele respondeu aos mensageiros:
"Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos veem, os
aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são
ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não
se escandaliza por minha causa". Lucas 7:21-23
Antes,
nesse mesmo evangelho, ele havia dito:
"O Espírito
do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos
pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da
vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do
Senhor". Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se.
Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes:
"Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir". Lucas 4:18-21
Se
recusamos a espiritualização de Jesus, e estamos convencidos de que ele veio na
Plenitude dos Tempos para livrar, curar, encher os pobres de esperança, e
transformar este mundo que o Pai dele criou... se acreditamos que ele veio dar
acabamento à obra da criação do ser humano, pela realização em sua vida de um
modelo de ser... então, tem que haver uma resposta para a pergunta que hoje
fazemos desesperados, como a que fez João Batista.
Ao
olharmos, dois mil anos depois para o que aconteceu, percebemos que Jesus não
estava despreocupado com o Império,
pelo contrário, ele o atacou e acabou por derrota-lo completamente. Da mesma
forma, ao longo da história, todos os dominadores e exploradores, todos os
governantes ilegítimos como o Sr. Michel Temer, foram instigados, incomodados,
perturbados e derrubados pelo mesmo poder. Caso contrário, não estaríamos aqui
hoje contando essa história.
Temos
que compreender como ele fez isso para sabermos como agir hoje. Penso que
podemos identificar duas frentes de ataque de Jesus contra os opressores. Uma
positiva, constituindo através de seu exemplo e ensino uma comunidade de
pessoas em condições de viver uma vida de acolhimento e sem qualquer tipo de
opressão e violência. Outra frente negativa, através do ataque ao ponto
nevrálgico do sistema.
De
modo positivo, Jesus viveu acolhendo os excluídos, fossem eles de natureza
sexual, social, econômica, geográfica, etária, litúrgica, simbólica, racial,
nacional, física e cultural. É por causa das segregações que o poder opressor
consegue se manter. Enquanto brigamos entre nós por causa de nossas supostas
diferenças e interesses diversos e antagônicos, aqueles que nos dominam e
exploram podem continuar a fazê-lo sem preocupação.
A
frente de ataque negativa de Jesus exige uma compreensão daquela realidade, a
qual também é útil para entendermos a nossa: O Império Romano dominava o mundo
através de uma poderosíssima máquina militar, porém essa máquina servia apenas
de suporte externo ao processo de dominação. Na verdade, Roma dominava sempre
por meio de colaboradores locais. Sua macro-política global se sustentava em
milhares de micro-políticas locais, e que se dividiam em três tipos de
colaboradores: os políticos profissionais, os econômicos e os ideológicos.
No
caso da Palestina, os colaboradores político-profissionais eram representados
pelos Herodianos, e os Saduceus. Esses últimos tinham o controle do sacerdócio
do templo, e de onde saiam os sumo-sacerdotes, colaboradores políticos por
excelência do Império.
O
segundo tipo de colaboradores eram os cobradores de imposto, ou Publicanos.
Essa era a fruta principal colhida pelo Império. Os Publicanos tinham por
obrigação de entregar a Roma um “X” de receita anual, obtida pelo imposto. Eles
nada recebiam para fazer esse trabalho, de modo que podiam cobrar “X+n“ sendo
que esse “n" podia ser X vezes 2, ou vezes 3. O povo odiava os publicanos,
pois era a face mais visível do colaboracionismo. Além disso ninguém gosta de
ver o preço de sua gasolina aumentando por causa de impostos injustos.
O
terceiro tipo de colaboracionista, porém, era o mais importante de todos: o
ideológico, simbólico ou cultural: os Escribas e Fariseus. Esses tinham por
missão aplacar a revolta, justificar a exploração, legitimar os poderosos,
confirmar a imutabilidade da estrutura social, e para fazer isso (notem bem que
isso é a base de tudo), eles recorriam ao símbolo mais importante: Deus.
Através do discurso religioso, da Lei, do templo, da aliança e do culto, eles
funcionavam como o alicerce de toda dominação.
O
que Jesus fez? Atacou os colaboradores políticos (Herodianos e Saduceus)? Não.
Apenas os atormentou, e por eles foi entregue ao Império. Ele questionou o
colaboracionismo econômico dos Publicanos? De modo algum! Um de seus discípulos
era Publicano (Mateus). Foi almoçar na casa de Zaqueu, um poderoso publicano.
Então,
o que Jesus fez? Ele atacou os Escribas e Fariseus de frente, e diretamente.
Não economizou palavras para os criticar, não teve com eles qualquer
aproximação ou piedade, preocupou-se em destruir pedra por pedra cada um de
seus argumentos.
O
que está acontecendo hoje no Brasil não é diferente: a força opressora se
levanta com suas garras de destruição e ódio. A face mais extrema dessa máquina
de destruição é o governo municipal de São Paulo. Só para citar um exemplo, o
Dória desmantela todo o programa municipal de ajuda e recuperação dos
dependentes de droga na cracolândia. Depois impede que as organizações sociais
e religiosas atendam os necessitados. Agora, proíbe que sopa seja dada aos
famintos, e acorda os que moram nas ruas com jatos de água fria nas noites de 8
graus centígrados.
Em
suas casas, quentinhos e acomodados, os paulistanos em grande parte evangélicos
ou católicos, veem as notícias na TV, e dizem uns para os outros: “É isso
mesmo! Tem que acabar com esses desgraçados!”
São
esses mesmos que bateram panelas contra Dilma. São esses mesmos que colocaram o
plástico de Fora Dilma ao lado do outro plástico que dizia “foi Deus quem me
deu”. São esses mesmos que soltaram fogos quando os deputados votaram sim pelo
golpe contra a presidente.
Sabe
porque essas pessoas fazem isso? Porque foram discipuladas 1) pela mídia; e 2)
por seus líderes religiosos.
Enquanto
essa maioria sentada na frente da TV continuar dando seu apoio silencioso (e as
vezes audível) a esse Estado de Exceção, a sanha assassina vai continuar
rolando solta, e nossos protestos vão se tornar cada vez mais folclóricos,
engraçados e inócuos.
Os
cientistas da comunicação podem e devem enfrentar o desafio da mídia. Eles tem
a competência para isso, pois esse é o diferencial deles. Os políticos de
esquerda podem e vão continuar fustigando o Congresso Nacional, mesmo que sejam
minoria. Eles tem competência para isso, e esse é o seu diferencial. Os
juristas contra o golpe vão fustigar a corrupção política do sistema judicial
brasileiro, pois eles estão lá dentro, são competentes, e o conhecimento do
direito é o diferencial deles.
Qual
é o nosso diferencial? Nossa frente de ataque tem que ser diretamente voltada
para os Escribas e Fariseus contemporâneos. Ele tem que ser desmascarados como
colaboracionistas mor da estrutura de exploração montada no país. Com eles não
há qualquer possibilidade de comunhão. São o lado oposto da luz. São filhos do
pai da mentira e sua meta é única e tão somente matar e destruir. Eles
conquistaram o poder. Fazem parte do Sinédrio (o Senado e as Câmaras de
deputados federais, estaduais e das Câmaras de vereadores). A presença deles ali
é fundamental para dar a esses poderes corrompidos um ar de falsa legitimidade.
Se
a macro-política se apoia na micro-política das igrejas, e se nós fazemos dessa
micro-política a nossa política, atacando a base de sustentação religiosa, e
especificamente evangélica do poder, ele vai estremecer de cima a baixo. Esse é
o nosso diferencial. E o mais importante, nosso diferencial é Jesus. Foi ele
quem nos mostrou com sua vida e ministério, com seus exemplos e ensinamentos
que isso é assim. Não temos outra competência maior do que essa, e essa é a
mais importante de todas! Mãos a obra, meus codiscípulos de Jesus.
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