segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O Espírito Santo, "Pai dos Pobres," Presente na Luta dos Oprimidos



 O Espírito Santo foi enviado, como o Filho, ao mundo para completar e prolongar a obra de redenção e libertação integral. Seu campo privilegiado de ação é a história. Qual vendaval (Espírito em sentido bíblico) está presente em tudo que implica movimento, transformação e crescimento. Não conhece compartimentos, estanques e sopra onde quer, dentro e fora do espaço cristão. Toma as pessoas, enche-as de entusiasmo, confere-lhes especiais carismas e aptidões para transformarem a religião e a sociedade, romperem as instituições enrijecidas e criarem coisas novas. O Espírito preside a experiência religiosa dos povos não permitindo que jamais olvidem a perspectiva de eternidade e sucumbam aos apelos da carne.


De modo todo especial se faz atuante na luta e resistências dos pobres. Não é sem razão que vem denominado pela liturgia como o “pai dos pobres”, dando-lhes coragem para enfrentarem dia a dia a árdua peleja pela sobrevivência de si e de suas famílias, encontrando forças para suportarem as opressões do sistema socioeconômico que os explora e que não podem mudar de um dia para o outro, mantendo viva a esperança de que sempre se pode melhorar algo e que, unidos, poderão historicamente se libertar. A piedade, o senso de Deus, a solidariedade, a hospitalidade, a fortaleza, a sabedoria da vida, urdida de sofrimento e de experiência, o amor aos filhos próprios e dos outros, a capacidade de celebrar e de se alegar dentro dos piores conflitos, a serenidade com que enfrentam a dureza da luta, da vida, a percepção de que é possível e viável, a moderação do uso da força, e a resistência quase ilimitada de suportar a agressão persistente e diuturna do sistema econômico  com a marginalização que provoca, tudo isso são dons do Espírito, vale dizer, formas de sua inefável presença e atuação no seio dos oprimidos.


Mas essa atuação é ainda mais clara quando se insurgem, decidem tomar a história em suas mãos, organizam-se para reinventar e transformar e sonham no sono e na vigília com uma sociedade onde haja lugar para todos com pão e dignidade. A história das lutas libertárias dos oprimidos é a história da chama do Espírito Santo no coração dividido deste mundo. Por causa do Espírito, jamais morrerem e nunca adormecerão, sob a cinza da resignação, os ideais de igualdade e de fraternidade, a utopia de um mundo onde seja mais fácil amar e reconhecer no rosto do outro os traços maternos e paternos de Deus.

É também à luz da ação do Espírito que se deve entendera emergência da igreja nas bases, feitas mais acontecimentos que instituição, atualizando o movimento de Jesus e se comprometendo com a justiça do Reino. É aqui que se mostra a igreja como sacramento do Espírito Santo, dotada de muitos carismas, ministérios e serviços para o bem de todos e a construção do Reino na história.



Texto extraído do livro Como Fazer Teologia da Libertação: Leonardo Boff e Clodovis Boff.





  



  

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