O Espírito Santo foi enviado, como o Filho, ao mundo para
completar e prolongar a obra de redenção e libertação integral. Seu campo
privilegiado de ação é a história. Qual vendaval (Espírito em sentido bíblico)
está presente em tudo que implica movimento, transformação e crescimento. Não
conhece compartimentos, estanques e sopra onde quer, dentro e fora do espaço
cristão. Toma as pessoas, enche-as de entusiasmo, confere-lhes especiais
carismas e aptidões para transformarem a religião e a sociedade, romperem as
instituições enrijecidas e criarem coisas novas. O Espírito preside a
experiência religiosa dos povos não permitindo que jamais olvidem a perspectiva
de eternidade e sucumbam aos apelos da carne.
De modo todo especial se faz atuante na luta e resistências
dos pobres. Não é sem razão que vem denominado pela liturgia como o “pai dos
pobres”, dando-lhes coragem para enfrentarem dia a dia a árdua peleja pela
sobrevivência de si e de suas famílias, encontrando forças para suportarem as
opressões do sistema socioeconômico que os explora e que não podem mudar de um
dia para o outro, mantendo viva a esperança de que sempre se pode melhorar algo
e que, unidos, poderão historicamente se libertar. A piedade, o senso de Deus,
a solidariedade, a hospitalidade, a fortaleza, a sabedoria da vida, urdida de
sofrimento e de experiência, o amor aos filhos próprios e dos outros, a
capacidade de celebrar e de se alegar dentro dos piores conflitos, a serenidade
com que enfrentam a dureza da luta, da vida, a percepção de que é possível e
viável, a moderação do uso da força, e a resistência quase ilimitada de
suportar a agressão persistente e diuturna do sistema econômico com a marginalização que provoca, tudo isso
são dons do Espírito, vale dizer, formas de sua inefável presença e atuação no
seio dos oprimidos.
Mas essa atuação é ainda mais clara quando se insurgem,
decidem tomar a história em suas mãos, organizam-se para reinventar e
transformar e sonham no sono e na vigília com uma sociedade onde haja lugar
para todos com pão e dignidade. A história das lutas libertárias dos oprimidos
é a história da chama do Espírito Santo no coração dividido deste mundo. Por
causa do Espírito, jamais morrerem e nunca adormecerão, sob a cinza da
resignação, os ideais de igualdade e de fraternidade, a utopia de um mundo onde
seja mais fácil amar e reconhecer no rosto do outro os traços maternos e
paternos de Deus.
É também à luz da ação do Espírito que se deve entendera
emergência da igreja nas bases, feitas mais acontecimentos que instituição,
atualizando o movimento de Jesus e se comprometendo com a justiça do Reino. É
aqui que se mostra a igreja como sacramento do Espírito Santo, dotada de muitos
carismas, ministérios e serviços para o bem de todos e a construção do Reino na
história.
Texto extraído do livro Como Fazer Teologia da Libertação: Leonardo Boff e Clodovis Boff.
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